quinta-feira, 23 de junho de 2011

Leve desespero



Abriu os olhos, e junto veio o sentimento velho conhecido seu: a aflição por todos os objetos estarem fora do lugar; livros no chão, roupas na cama, folhas do caderno oscilando ao sabor do vento. Estava tudo errado, pensou. E mal podia organizar as ideias naquele lugar. Precisava arrumar tudo. Para que coisas boas acontecessem tudo deveria estar arrumado. Mas por onde começar?

Os móveis caídos no chão clamavam por uma intervenção, mas também o faziam os lençóis sujos sobre a cama e os insetos que haviam tornado a cozinha um novo ecossistema. Tudo aquilo que era necessário fazer a esmagava, e ela percebeu que mesmo após a limpeza o desassossego permaneceria; continuaria a subir por suas pernas aquela sensação de que havia algo muito errado. Sentia as panturrilhas geladas, como se uma geléia fosse sendo derramada e subisse pela carne lentamente, retesando todos os músculos.

Continuaria se sentindo perdida e suja mesmo que habitasse um castelo; mesmo que o piso limpíssimo refletisse o brilho de suas pupilas. De fato, pensando assim, se sentia melhor pertencendo a esse casebre sujo e não a um castelo resplandecente; toda a degradação externa abafava o caos que ela sentia por dentro.

Um comentário:

  1. Um grande amigo meu, psiquiatra (e a vírgula faz a diferença neste caso), disse que negar o caos não livra ninguém da dor. O melhor é guardar espaço suficiente pra ele, tomá-lo e aceitá-lo como seu, e aprender a conviver com isso. Arrume um sótão e coloque nele todos esses sentimentos.

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