terça-feira, 10 de maio de 2011

Sutil e doce

Manhã cedo, corredor lotado, sentidos dominados pelo sono.

Música alta, conversas sussurradas, gargalhadas, colônia forte jogada sobre os corpos. Sutil, um aroma se destacou entre as notas mais agudas dos perfumes. Sutil e doce… Artificial e doce. As imagens vieram logo, todas juntas e cheias de cor e luz.

Revivi.  Um take fechado de tuas costas nuas, cobertas apenas pelos desenhos inusitados de tintas vivas; as cores do teu universo preenchendo o quarto de paredes brancas. Fechei os olhos e ouvi mais uma vez a música nova que me fazia vibrar como só o fazem as minhas preferidas; nossas conversas e silêncios dominando todos os meus sentidos.

No fim daquela tarde as paredes brancas do teu quarto se tingiram de vermelho e amarelo refletindo teus cabelos e o pôr do sol, e um aroma lilás se destacava entre todos outros. Sutil e doce… Artificial e doce.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Coceira

I got scratches, all over my arms
One for each day, since I fell apart
(Footsteps – Pearl Jam)



Tenho essa insistência irritante com as minhas feridas.

Perturbo cascas, arranho projetos de cicatrizes inconscientemente, movimento automático de dedos e unhas. Quando vi já interrompi mais um processo; mais uma feia marca no rosto.

O que leva ao desassossego é que não compreendo. Como se sentisse falta do incômodo, da adrenalina, do perigo. Envolvo-me em reminiscências que nem fazem parte do meu novo ser, ressuscito temores já sufocados pelo pó, ensaio reinterpretar as dúvidas que fui abandonando tão gradativamente.

Fato é que o palco não é mais meu, a platéia não suporta mais assistir às minhas reprises. E de todos, quem menos acredita nesse papel que desempenho sou eu mesma.