sexta-feira, 18 de março de 2011

Quebra-cabeças


Como perceber qual o momento certo, quando nossos olhos quase se cruzam, mas não se reconhecem?



Hoje, antes de dormir, pensei em você. Mas quem era esse você? Será que você existe? Não possuo ainda teu rosto definido em minha mente.
Nunca te vi, mas adivinho o som da tua risada e o tom animado e um pouco sério com que fala o meu nome. Senti o teu olhar tímido e íntimo sobre mim na primeira vez em que me chamou de menina, no tom delicado que as palavras  deixavam te entrever.

Te encontrei, hoje? Não sei. Se não te conheço, como  quase pude ver teus cabelos ondulando enquanto você corria em direção oposta à minha, saindo enquanto eu chegava? Paralisei por dois segundos e te senti ali, ainda restava o mistério da tua presença.
E essa impressão de que te conheço; mesmo não sabendo direito como se passam teus dias, qual o nome do teu primeiro amor ou o que te leva exatamente a sorrir e a chorar, quando você me conta que tais coisas aconteceram. Sinto que te conheço porque às vezes, apesar de as palavras serem a única coisa que temos, nos comunicamos para além delas.

De repente analiso cada estranho com uma dedicação obsessiva: olhos, bocas, sorrisos e cabelos, comparando-os à tua imagem guardada em minha cabeça. A cada um que não é você me vem como que um alívio: - eles são reais.

terça-feira, 8 de março de 2011

Na chuva, na fazenda...

Foto de Gustavo Barreto.

Tem coisa mais gostosa que chuva no sertão? Vento aconchegante jogando os primeiros pingos contra o rosto, pés na terra grossa, pedrinhas molhadas que machucam e acariciam... 

O verde de cada árvore se destaca, aceso pela água que desliza. Cheiros exaltados; cheiro de mato, de chão molhado, de flor. Cada detalhe expandido, latente; minha sensibilidade aguçada, aquela preguicinha que vem com a chuva. E a possibilidade que só existe no sertão de sentar em cadeira de balanço no alpendre e balançar, balançar, balançar; se concentrando no cenário tão simples e belo. Os pingos, as gotas, as goteiras... Gotículas que o vento traz e refrescam o rosto com delicadeza de borrifador. 

Quando curto a chuva, me sinto em casa. Saio de dentro de mim pra espiar e volto de novo, fecho os olhos e me analiso com calma. Com aquela certeza de que todas as coisas estão nos seus devidos lugares; prateleiras internas arrumadas. Contentamento tranquilo, sensação de completude.

Se não fizessem tanto escarcéu com a palavrinha ‘felicidade’, eu diria que nesses momentos comigo é que consigo ser plenamente feliz.