terça-feira, 19 de abril de 2011

Fecho os olhos para me encontrar



Na substância de que é feita o escuro, me achei. 

Depois de tantos dias sem conseguir me ouvir, cercada por um mundo de cores atordoantes, luzes e vozes, gritos e sussurros, mergulhei por acaso em um ambiente escuro e senti a paz de não mais ouvir às demandas alheias.

A porta aberta revelou escuridão densa e tão real que imaginei que poderia ser tocada; aceitei o convite e estendi meus dedos adiante não por medo dos obstáculos, e sim procurando tocar o tecido preto que me tapava a vista. Mas não havia nada lá além do meu mistério que a escuridão revelava, e a possibilidade de finalmente ouvir aos antigos chamados internos. Cuidado pra não tropeçar no entulho que acumulei em minha cabeça; tranqüilidade para arrumar todo o lugar que estava deserto de mim há tanto tempo.
Quando finalmente desisti de identificar qualquer objeto naquele espaço, quando me conformei com os véus que me tapavam a vista, é que voltei a ver [Ah, como é fácil ver quando abandono essa mania de controle... ]. 

Identifiquei silhuetas desenhadas na fraca luz depois objetos inteiros, faces, pessoas. E o escuro deixou de ser misterioso para se transformar em aconchego e paz. 

Me aninhei, ocupei confortavelmente o espaço de minhas memórias e sentimentos, mastiguei os acontecimentos e só então consegui voltar à orgia de luz, informações, afetos e à mais completa confusão que é a outra vida, aquela que acontece fora de mim.

3 comentários:

  1. As vezes se perder no escuro eh confortante. pra s entender mió. E como sempre seus posts são mega agradáveis de ler =)

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  2. Para viver uma vida com o mundo é necessário organizar o que está dentro de si.
    Não se vive - não se deve viver - só da boca pra fora. É recomendável sentir cada coisa.

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  3. Sentir cada coisa é o sentido da vida - descobri! ;) Thanks, meninas.

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