domingo, 6 de fevereiro de 2011

Do lado de dentro

Porque eu já tranquei as portas e escondi as chaves
Só não vi de que lado fiquei – de dentro ou por fora, nem sei.
(Moska)



Não quero mais te assassinar, extirpar violentamente de mim rasgando pedaço a pedaço. Porque a cada pequena distração, aos domingos e nas madrugadas você se esconderá em meus recônditos mais discretos, mais profundos. Pequenos pedaços de você, sementes que aguardam o momento certo de se multiplicar. Sinto de repente selvagerias que nunca imaginei, sonhos de destruição e de implosão. Acabar com tudo, comigo inclusive, só para não te sentir mais. Se torna necessária a destruição, porque é como se esses pequenos pedaços gravados indelevelmente em mim estivessem zombando, mostrando o quanto é impossível te esquecer por muito tempo.

Não é nenhum daqueles ideais românticos de ‘eu não consigo viver sem você’. Claro que consigo viver sem você e até consigo, muitas vezes, te ignorar. Mas sempre acontece alguma coisa pra reviver o você em mim. Algum desastre-da-última-semana e lá vou eu te convencer que a vida vale a pena. E no fim, sinto um daqueles teus pedaços lutando por se regenerar, se reproduzindo e preenchendo todo o espaço que eu havia acabado de limpar, com tanto esforço. E lá se vai a sala vazia e ampla que eu havia construído em mim, almofadas arrumadas esperando novo morador.

Como você não percebe que esse caos instaurado é a minha maior prova de amor? A violência pra te arrancar daqui é porque você não pode estar, não. Se você fica me torno fraca; e a minha força e rebeldia são as últimas coisas que restam de mim nessa história. Tenho ganas de, já que não posso te destruir, te trancar aqui do lado de dentro. Começar fingindo raiva, ou desprezo, ou indiferença para que a realidade me acompanhe mais adiante. O mais estranho é que nos períodos mais graves de tua ocupação você transborda em mim, de dentro pra fora. Se expande no brilho dos meus olhos, no sorriso um tanto quanto louco e desesperado e numa felicidade estranha; você é dor boa de sentir.

Espero o dia cada vez mais próximo, eu sei, em que conseguirei eliminar essa tua presença constante, os tecidos do amor desesperado que se renovam. E não será mais pela força, pela dor e nem pelo desespero. Será pela tranquilidade de pensar em ti e saber que te amo, e vivenciar isso de forma tão plena que o que você pensa ou faz disso não me incomode mais, e que eu possa simplesmente te deixar pra lá.


As gotas são azuis, mas em alguns dias eu vejo tudo vermelho.

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